Os votos de 277 deputados federais mantiveram na prisão Chiquinho Brazão (RJ), parlamentar acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes há seis anos.
- 129 votaram contra,
- 28 se abstiveram,
- 78 estavam ausentes.
Houve muita movimentação para evitar a confirmação da prisão, decretada pelo Supremo Tribunal Federal. É uma briga institucional no escuro, com recibos passados em cartório e tudo.
Muitos deputados não gostaram do encarceramento de Brazão e temem ser vítimas do mesmo destino. Por razões ocultas, querem eles mesmos ter o poder de decretar suas prisões… com ironia, por favor. A maioria ficou a favor da detenção por pressão da imprensa e temor de perder votos, da reação das redes sociais… enfim, o medo foi um bom conselheiro.
Há claras ressalvas a serem feitas ao inquérito, pois existem muitas dúvidas no ar mesmo após o caso ter sido declarado encerrado. A falta de prova cabal de um encontro entre os mandantes e o assassino da vereadora, o ex-policial militar Ronnie Lessa, ainda é um imenso desafio aos investigadores.
Existe uma delação do assassino, mas ela precisa estar baseada em provas. Até agora, há mais narrativa lógica do que evidências irrefutáveis. O passado recente do Brasil deveria nos ter deixado escaldados sobre delações. Os presos podem ser culpados, e parecem ser. Mas recomenda-se cuidado para não culpar alguém hoje e ter essa pessoa absolvida anos depois por descobrir erros graves na investigação, falhas nas delações, falta de provas. O presidente Lula passou mais de 500 dias preso, para ter o processo anulado depois.
De qualquer forma, o importante é notar que há um movimento para tentar evitar os riscos de prisão das excelentíssimas excelências que votaram contra a “saidinha” dos presos quase sempre pobres, quase sempre pretos, quase sempre pardos. Agora, ameaçam derrubar o veto do presidente Lula que mantém as “saidinhas” para convívio familiar aos presos que têm direito ao regime semi-aberto e com bom comportamento. Ou seja, sem “saidinha” para o andar de baixo, com um “saidão” para o andar de cima da elite parlamentar.
E mais interessante ainda:
A reação ao STF e à prisão foi vendida como uma pedra fundamental do lançamento de candidaturas à sucessão do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
O deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) incorporou a reação ao tribunal e trabalhou intensamente contra a manutenção do regime fechado para Brazão. Seus aliados fizeram a leitura de que ele cresceu com esse movimento, assumindo a liderança do sindicato nacional dos deputados federais.
Outros candidatos evitaram a presença ou se abstiveram. Foram mais discretos. Mas não brigaram com o espírito de corpo da chamada Câmara Baixa, nome por vezes muito apropriado no regime bicameral com o Senado. Um observador arguto notou que o governo trabalhou pela manutenção da prisão. E ganhou. Sinal de que, se aliado aos grupos políticos certos, pode ajudar muito um candidato que não seja tão alinhado ao atual presidente Lira.
- Para vencer, o próximo presidente da Câmara precisa de 257 votos.
Isso pode explicar porque Lira estava tão bravo nos últimos dias… Ainda falta muito para fevereiro de 2025. E muita água vai rolar no espelho d’água do Congresso Nacional até lá. Mas os nervos já estão saltando do 25º andar do vertical prédio do anexo I da Câmara dos Deputados.
Por: Márcio De Freitas/Exame