Os Emirados Árabes Unidos prometeram, nesta terça-feira (5), investimentos de 4,5 bilhões de dólares (22,1 bilhões de reais na cotação atual) em energias limpas na África, durante a primeira cúpula climática do continente que quer promover seu potencial verde.
Na abertura da cúpula na segunda-feira, o presidente do Quênia, William Ruto, afirmou que, se conseguir atrair financiamento, a África tem uma “oportunidade sem igual” para se desenvolver enquanto luta contra o aquecimento global.
Os Emirados Árabes Unidos, que receberão a próxima conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP28) em Dubai ainda este ano, anunciaram nesta terça-feira o primeiro compromisso financeiro da cúpula.
Sultan Al Jaber, que dirige a empresa petrolífera nacional dos Emirados (ADNOC) e a empresa governamental de energias renováveis (Masdar), disse que este investimento “desencadeará a capacidade da África de alcançar uma prosperidade sustentável”.
Um consórcio que inclui a Masdar ajudará a desenvolver 15 gigawatts de energia limpa até 2030, afirmou Sultan Al Jaber, que também presidirá as negociações da COP28.
A capacidade de geração de energia renovável do continente era de 56 gigawatts em 2022, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável.
Esta cúpula histórica reúne chefes de Estado, chefes de Governo e líderes em economia do continente e de outros países, na capital do Quênia, Nairóbi.
Apesar da sua riqueza em recursos naturais, apenas 3% dos investimentos globais em energia são feitos no continente africano.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu nesta terça-feira ao mundo que torne a África “uma superpotência de energia renovável”.
“A energia renovável pode ser o milagre africano”, disse em um discurso. Ele também apelou aos líderes do G20, que se reúnem este fim de semana na Índia, para que “assumam as suas responsabilidades” no combate às mudanças climáticas.
– O peso da dívida –
A transição para energia limpa nos países em desenvolvimento é crucial para tentar manter o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global “muito abaixo” dos 2ºC desde a época pré-industrial e, se possível, abaixo de 1,5ºC.
Para conseguir isso, a Agência Internacional de Energia (AIE) garante que os investimentos deverão atingir 2 bilhões de dólares (9,8 bilhões de reais) por ano em uma década, oito vezes mais.
Os participantes da cúpula também pediram uma reforma das estruturas financeiras globais para se alinhá-las aos objetivos climáticos.
Al Jaber apelou, em particular, a uma “intervenção cirúrgica na arquitetura financeira global construída para uma época diferente”e instou as instituições internacionais a reduzirem o peso da dívida, que paralisa muitos países.
“África é a chave para acelerar a descarbonização da economia mundial. Não somos apenas um continente rico em recursos. Somos uma potência com potencial inexplorado, ansiosa por participar e competir de forma justa nos mercados mundiais”, disse William Ruto na segunda-feira.
A ênfase da cúpula nas questões de financiamento, contudo, gera oposição por parte de alguns ambientalistas.
Centenas de pessoas se reuniram perto do local da cúpula na segunda-feira para denunciar a sua “agenda profundamente corrupta” centrada nos interesses dos países ricos.
As organizações da sociedade civil pediram ao presidente William Ruto que não aborde mecanismos como os mercados de créditos de carbono.
A cúpula de Nairóbi também busca definir uma visão comum africana sobre o desenvolvimento e o clima, em um continente que abriga 1,4 bilhão de pessoas, entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas, com 54 países política e economicamente diversos.