Próximo de completar 100 anos de idade, o sergipano Gilberto Rollemberg Figueiredo lembra das primeiras tábuas que carregou para construir o recinto que abrigava a fêmea de elefante-asiático Nely, primeiro animal do Zoológico de Brasília. O aposentado fez parte das primeiras turmas de funcionários da fundação, criada em 1957.
Hoje, com as mãos calejadas de uma vida inteira dedicada ao trabalho, Gilberto se orgulha em dizer que era chefe de compra do Zoológico e ergueu os recintos dos primeiros animais: Nely, um lobo-guará e uma anta.
“Era tudo de madeira naquela época, improvisado. Mas fazíamos bem-feito. Minha casa era próxima ao recinto da anta. Nós não só trabalhávamos no zoológico, como morávamos lá. Meus filhos foram criados todos lá dentro, e aquilo faz parte da minha vida”, conta Gilberto.
O sergipano estava morando no Rio de Janeiro quando veio para a prometida capital federal trabalhar no zoológico. Em Brasília, Gilberto casou-se e teve dois filhos. “A cidade não existia ainda. Não havia nada. Eu e a minha turma fomos os pioneiros”, conta.
Dedicação
Além dos primeiros recintos, na época chamados de “jaulas”, Gilberto também plantou as primeiras mudas de árvores do Jardim Zoológico.
“Fiquei no Zoológico por sete anos. Fiz um pouco de tudo e gosto de lembrar dos anos que passei com esses meus colegas funcionários do Zoo. Éramos todos bons amigos. Acho que apenas eu e um outro colega estamos vivos. Todos já partiram”, lamenta Gilberto.
E as histórias da turma são muitas. Ele e os colegas criavam solto um quati, apelidado de “Megatério”. Apaixonado pelos tratadores, o animal não fugia. “O Megatério era bem esperto. Aparecia para fazer graça com a gente. Subia no nosso ombro e roubava cigarros dos bolsos da camisa ou da calça”, relembra Gilberto.
Saudade
Apesar do carinho pelo Zoológico, Gilberto está há mais de dez anos sem visitar o local. Com a locomoção comprometida, ele conta que ficou mais difícil sair de casa, mas que um dos desejos é ainda poder passear pelo parque.
“Sei que está tudo muito diferente, mudado. As coisas evoluem muito e se modernizam. Com certeza, está muito diferente de tudo que fizemos lá nos primeiros anos”, relata.
Em 1958, Gilberto ganhou um quadro com uma pintura que mostra o recinto da anta, que ele mesmo construiu, e o escritório do ex-funcionário no zoológico. A imagem, ele faz questão de guardar com muito carinho pendurada na parede da casa onde mora, em Taguatinga.
Animais antigos
A famosa elefanta Nely morreu em 1992, provavelmente por causa da idade avançada. Estima-se que ela tinha cerca de 60 anos. A morte dela coincidiu com uma visita oficial do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, a Brasília. Comovido pela tristeza em que os brasilienses ficaram com a morte da elefanta, Mandela presenteou o DF com um casal de elefantes.
Babu e Belinha chegaram ao zoo em 1995. O macho morreu em janeiro de 2018. Hoje, quem faz companhia a Belinha, 27, é Chocolate, 30, resgatado de um circo em 2008.
De acordo com os registros do zoológico, não há animais da época de Nely. Os bichos mais antigos são a hipopótamo Bárbara, que chegou em 1983, e uma arara-azul, de 1999.
*Com informações do Zoológico de Brasília
Fonte: Agência Brasília