Cuba teve protestos de rua contra o governo nos últimos dias. É uma reprise diante da falta da distribuição de alimentos básicos, como leite para crianças, e da falta de energia elétrica nas cidades. A Enel não atua em Santiago, ainda bem. Como regra, o governo comunista mandou a repressão policial, prendeu alguns manifestantes considerados líderes, enviou caminhões de comida e deixou o povo na escuridão à noite. As medidas funcionaram, pelo menos enquanto o povo não consegue se orientar pela escuridão.
Assim é o regime cubano, saudado pela esquerda em várias partes do mundo. Outro líder exaltado pelas esquerdas mundo afora é Vladimir Putin, o neoczar russo. Será mais longevo do que Josef Stalin. Até parece copiar alguns métodos do antigo líder – que dizimou milhões pela fome, pela matança indiscriminada, pela perseguição implacável de inimigos e pelo terrorismo impingido aos próprio aliados.
Putin teve uma votação estrondosa, alcançada diante da ausência de adversários políticos consistentes: os que existem estão presos, exilados ou mortos (muitos com suspeitas de envenenamento). A democracia russa é muito peculiar, coisa que Dostoiévski poderia classificar de regime do crime e pecado.
Embebido pelo petróleo para custear seu regime autoritário, Nicolas Maduro mantém-se no poder eliminando qualquer possibilidade real da oposição enfrentar seu governo em pé de igualdade. Sufocou a imprensa de oposição, afasta adversários eleitorais com recursos de uma “justiça” alinhada e mantém parte do povo, a parte que não migrou fugindo da ditadura e da fome, sob programas sociais que distribuem migalhas para evitar uma revolta contra seu governo ineficiente. Outros privilegiados participaram do butim sem fim das riquezas do país.
O Brasil conseguiu manter sua democracia pela resistência das instituições nos últimos anos. Com todos seus muitos defeitos, o Judiciário teve papel importante na resistência aos avanços do governo de Jair Bolsonaro sobre as prerrogativas democráticas. A imprensa denunciou e criticou muito, nem sempre bem calibrada ou com apuração, mas percebendo as intenções de forma interpretativa, induziu o movimento político de resistência à sedição antidemocrática. Funcionou. Sabe-se agora, até as Forças Armadas resistiram às vivandeiras que foram aos bivaques bulir os kids negros.
O contraste entre as ditaduras e o sistema brasileiro mostra que instituições fortes, limites ao poder absoluto, os pesos e contrapesos são fundamentais para a democracia. Apesar de muita descrença e dúvidas, as instituições brasileiras funcionaram.
O bolsonarismo radical enfrentou também um Congresso que não estava alinhado com suas teses: nem sempre foi a questão democrática a despertar os instintos de sobrevivência dos parlamentares, mas sim interesses objetivos. Um interesse objetivo é ter discordâncias sobre temas econômicos, sobre costumes ou mesmo puramente políticos. E poder exercer o direito de manifestar essas discordâncias. Houve então manifestações em contradita aos intentos autoritários por votos e palavras.
É sempre bom ter em perspectiva que muitos líderes não são democratas. Bolsonaro, por exemplo, sempre manifestou desprezo pelas instituições. Disse desejar ver um presidente da República ser executado, lamentou que a ditadura tivesse poupado pelo menos 20 mil pessoas… Foi contido pelo sistema, e se lançou candidato anti-sistema. Só que este resistiu.
Os fanáticos do 8 de janeiro de 2023 foram ao limiar de seus anseios ditatoriais sem um líder e sem uma estrutura por trás de si… mas as apurações mostram que há que se responsabilizar quem incensou a insanidade. É preciso zelar para não se chegar ao que é hoje Cuba, Venezuela, Rússia…
O passado mal construído impede um futuro melhor. Ao atual governo caberia construir um presente melhor para garantir o futuro menos frágil. No entanto, se perde em reconstruir um passado que jamais poderá ser mudado. O passado está feito, o futuro a se fazer.
Por: Márcio De Freitas